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Mostrando postagens de julho, 2013

Café Sem Acúcar

Não disse nada, apenas levantou da cama tentando não fazer barulho. Eu não quero acordar agora, permaneço fingindo sono. E enquanto escuto os seus passos pesados no corredor, meus pensamentos despertam e vão ao encontro dos motivos que levara ele se levantar sem dar aquele beijo no meu cabelo. Na noite anterior, desentendimentos e ofensas eram atiradas em um e o outro revidava, mas nada ofendeu mais do que o silêncio que ficou depois do "você não é mais como antes." Afinal, as pessoas mudam? Enquanto tento encontrar a resposta, ele entra no quarto com cheiro de banho tomado misturado com o silêncio. Foi então que me lembrei de todos os banhos matinais aos finais de semana, a ducha que era divida de maneira solidária, as brincadeiras, os sorrisos e as ensaboadas nas costas. No final, aquele beijo molhado e um recado no espelho do banheiro. Ainda estou enrolada nas cobertas, não sei por quanto tempo mais eu aguento fingir que estou dormindo. Será que levanto

Isso é de Deus

Aquele casal que sentara no centro do templo, de frente para o altar, não trocavam palavras, mas se declaravam o tempo todo.  Ele, vestido de camisa azul e listras brancas, calça clara e cabelo raspado, segurava com aquelas mãos grossas de homem trabalhador braçal, a mão de sua companheira. E naquele momento uma dança sincronizada era apresentada entre aqueles dedos. Uma mistura de rústico com delicadeza da moça. O casal aparentava ter menos de trinta anos. Ela, com camisa branca soltinha, carregava em seu braço um delicado ser humano recém-chegado ao mundo. Esse mini ser humano não tinha cinquenta centímetros, mal emitia ruídos, apenas movimentos delicados de suas mãos ainda meio enrugadas. E naquele colo, ele fazia de ventre, se encolhia.  Moça com tiara de flor delicada na cabeça, exalava calma em todos os seus gestos, e ao passar o mini humano para o colo do seu amado, era possível observar os olhos brilhando daquele pai apaixonado. Ele não dizia nada, apenas contemplava

Manias Esquisitas

Alguém que aceite minhas manias: macarrão com pouco molho, uísque puro e dormir com edredom mesmo no calor. Gosto de jantar antes do banho, ler somente de madrugada e discutir sobre futebol. Alguém que aceite quando falo demais e que não estranhe os meus gostos musicais que vão de Caetano à Metallica. Que deite preguiçosamente no sofá comigo aos domingos sem pressa do dia terminar, sem questionar a preguiça que consome e que ria junto comigo quando tem que levantar para mexer nas panelas. Que faça caretas em fotos, assim como eu. Que não se assuste com meu gosto por All Star e saltos. Que não se impressione pela quantidade de sapatos que guardo e pela pouca paciência que tenho de comprar roupas. Mas que entenda que não abro mão das minhas unhas esmaltadas e que não saio de casa sem anéis. Que aceite minhas vontades de jogar tralhas inúteis fora e que não se apegue aos sentimentos mesquinhos que viram brigas desnecessárias. Alguém que goste de consertar ao invés de jogar f

Inquietude

E foi assim que ele adentrou em minha vida, fazendo barulho. Não deu tempo de pedir para ele não reparar na bagunça. A bagunça do meu coração e da vida que eu levara não foram desculpas para que ele não me invadisse, arregaçando a porta e deixando meu coração aberto.  E veio com tudo, com força e expressões marcantes. Me fez sentir mulher, sem ao menos me tocar. E veio com audácia, como um guerreiro armado para conquistar um território.  Declarou guerra à mim. Eu, que jamais arrego perante os desafios, aceitei. Unidos a cada dia numa batalha de quilômetros de saudade, e vencendo o DDD com uma presença fiel. Ele está comigo, ao meu lado, sem esforço, sem intervalos.  Não preciso sentir o cheiro do shampoo em seu cabelo para ter a certeza que ele está comigo. Não preciso sentir a sua respiração em meu pescoço porque sei que ele dorme aqui. Mas, em minha inquietude, faço-me racional, ele não me pertence. Não no sentido de posse ao querer torná-lo meu objeto, mas como o sentid